sexta-feira, 13 de março de 2009

"O poder das palavras"

Outra hora (dias passam tão rápido) peguei-me a pensar na Gramática por um aspecto que jamais imaginei: seu poder facista. Tudo porque um colega (!) de classe, muito bom na Gramática, soltou duas aberrações verbais, dois acintes ao uso das palavras. Primeiro, que por ele, todo "ongueiro" devia ir para a cadeia; e depois, que uma das frases utilizadas pelo professor numa apostila, seria "viadagem". Achei os comentários tão infelizes que na hora retruquei dizendo que, hoje, as pessoas se dão ao direito de falar qualquer bobagem. Ao que ele olhou-me com cara de paisagem e seguiu sua vida acadêmica, espalhando outras bobagens por aí. Acontece que esse pensamento não largou mais da minha cabeça: fiquei a divagar no quanto uma pessoa podia, com a Gramática na cabeça, expressando-se verborragicamente, fazer estrago no mundo com seu discurso preconceituoso. Um serial-killer verbal. Fiquei imaginando como numa cadeia de acontecimentos pode-se promover o acesso social, econômico, político, e cultural de pessoas bem-informadas, mas, mal formadas ideologicamente. Imagine essa gente no serviço público. Um bando de experts das gramáticas, das filigranas das regras da Língua Portuguesa, galgando cargos, rumo aos altos escalões do governo, chegando aos píncaros da glória, ao ponto em que, ele, dicente de Letras, sempre almejou: o Ministério da Educação! Imagine que ao realizar seu sonho (merecido batalhador da causa da LP), e ao chegar lá, banir das cartilhas as frases sutis e as citações aos órgãos não-governamentais, coroando sua competência linguística. Prefiro ainda a ignorância de quem não sabe falar, não conhece as regras, mas usa as palavras de forma coerente e justa, se não bela.

Um comentário:

  1. Queridíssimo, que bom estar aqui!
    Concordo com você: tô com a sabedoria da vida e não abro. Esse povo empalado com conhecimentos de orações subordinadas adjetivas, fala todas elas muito bem coordenadas e assindeticamente, ofende, humilha, reforça preconceitos e estereótipos.
    Sujeitinho mais descomposto esse...
    Um beijo enorme da Shirley

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